domingo, 31 de agosto de 2014

"Daria a vida a você, Timão".


No samba enredo de 2010 dos Gaviões da Fiel, intitulado "Corinthians... Minha vida, minha história, meu amor", um verso sempre me chamou a atenção: "daria a vida a você Timão, manter acesa a luz do lampião, pra te eternizar", e eu gostaria de refletir sobre ele neste Primeiro de Setembro de 2014, aniversário de 104 anos do glorioso Sport Club Corinthians Paulista. 
De que modo nós, Corinthianos do século 21, poderíamos dar a vida a você, Timão, e mantermos acesa a luz daquele lampião, da Rua dos Imigrantes? 

Me lembro de quando era garoto, e meu grande sonho (como de muitos garotos) era o de "ser jogador de futebol e jogar no Corinthians". Não tardei em perceber que isso não ocorreria, a grosseria de meus pés no trato com a bola impedia qualquer possibilidade disso acontecer.
Cresci, sigo crescendo. Dar a vida ao Corinthians com a bola nos pés não foi possível, então, vivo uma vida por ti Corinthians, uma vida por ti, Luz do Lampião, do modo que encontrei e acho correto.
Me formei cientista social, e, como dissera Menotti del Picchia à época da "Semana de 1922", "o Corinthians é um fenômeno sociológico a ser estudado em profundidade", eu estudo o Corinthians. Estudo Corinthianos e Corinthianas que dão a vida ao Corinthians do modo como lhes é possível (e às vezes até impossível): moldando todos os horários da semana para estar perto do time, frequentando o clube, perdendo um emprego em nome daquele jogo fora de casa, sendo sócio de uma organizada e lavando chão de sede (onde centenas de torcedores se encontrarão antes do jogo), escapando mais cedo do trabalho por que o horário do jogo é ingrato, deixando de ir aos jogos por que o ingresso está caro... Peraí!
É nesse instante que paro, neste dia de festa, 104 anos de Corinthians, e me viro ao Lampião (cuja luz me parece um tanto quanto fraca): "Corinthiano não consegue pagar ingresso pra ver o próprio time, naquela que é dita como 'sua casa' por que o preço do ingresso é absurdamente caro?".
Como dar a vida ao Corinthians, manter acesa a luz do lampião, te eternizar (!), se nem ao menos é possível te ver jogar?
Corinthiano, Corinthiana, lutemos! 
Lembremos da compra da primeira bola do clube, descrita belamente em uma revista Placar de 1988: "para se comprar a primeira bola, uma lista percorreu por todo o bairro, pois era necessário 6 mil-réis para se adquirir o principal instrumento do time. E muitos foram os que se privaram de um cafezinho, de um refresco, de uma passagem de bonde, para ajudar o clube. De níquel em níquel foi-se juntando o dinheiro".
Junte, não os seus trocados, esperando o dia em que eles alcancem as altas somas cobradas por um ingresso. Junte-se aos seus comparsas de arquibancada, companheiros de vitórias e derrotas. Junte-se ao espírito coletivo, que abria mão de uma passagem de bonde, de um cafezinho para que eles pudessem jogar bola, para que nós tivéssemos um Corinthians hoje! Junte-se na crítica ao Corinthians de hoje, junte-se na briga por um Corinthians verdadeiramente popular! 
Se podemos, em pleno 2014, "dar a vida a você, Timão, te eternizar", é usando nossas vozes, nossas forças, nossas redes sociais para retomar "a luz do lampião" - ela está fraca, mas, sabemos, somos tão fortes para reacende-la.
Parafraseando aquele já tão antigo manifesto, e o colocando em diálogo com as palavras de Miguel Battaglia: "Corinthianos de todo mundo, uni-vos, pois o Corinthians vai ser o time do povo, e o povo é quem vai fazer o time"!

Obrigado Corinthians! Parabéns Corinthianos! Parabéns Corinthianas! O Corinthians somos nós!
Vai Corintia!