terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Invertendo a Ordem da cidade.

São Paulo é a cidade da ordem. Talvez, em sentindo mais amplo, a cidade "das ordens": da ordem positivista, da ordem capitalista, da ordem do dominó - aquela famosa imagem, das peças de dominó em pé, enfileiradas: caiu uma, caem todas.
São Paulo é a cidade da ordem em que as pessoas que querem ficar paradas em degrau das escadas elétricas permanecem à direita, e quem tem pressa, sobe com passos largos os degraus à esquerda. Ouse parar no lado esquerdo de alguma destas escadas rolantes, e verá os nomes que usarão para se referir você.
São Paulo é a cidade da ordem, em que se uma destas escadas elétricas em uma das principais estações de metrô quebra, rapidamente um aglomerado desordenado se forma na estação, e tumultua embarques e desembarques.
São Paulo é a cidade que nasceu com ordem restrita, ordens de Vila, e cresceu, cresceu, cresceu... Ser um ponto estratégico entre o interior e o litoral fez com que crescesse mais, e mais, até ser referida nos dias atuais como "maior cidade do Brasil" e "coração financeira da América do Sul", e por ai vai.
São Paulo é a cidade em que foi fundado o Corintias, por um grupo de trabalhadores, em 1910 - quando a cidade ainda não era esse monstro que conhecemos hoje, e já deixava de ser a Vila de São Paulo de Piratininga. Esse clube, o Sport Club Corinthians Paulista, também cresceu e cresceu, também se enfileirou um pouco (é verdade) nas "ordens". Foi então que hoje (18 de Dezembro de 2012), em razão do time de futebol profissional deste clube ter conquistado o Mundial de Clubes, toda a ordem correu Tietê abaixo, para que (talvez vindo do Tamanduateí, que deságua neste Tietê) emergisse outra ordem: a ordem da festa!

São Paulo é a cidade que parou no dia 18 de Dezembro de 2012, pois o Sport Club Corinthians Paulista conquistou, com os pés, a cabeça e as mãos, pela 2ª vez, algo digno de se fazer uma festa de parar o mundo - ou, pelo menos, uma das maiores cidades do mundo.

***

Ao cruzarmos o Rio Tietê passando pela Ponte das Bandeiras, me recordei que naquele mesmo espaço da cidade - referido no início do Século 20 como "Ponte Grande" - se ergueu, pelos braços do povo, o que se teve como "Primeiro Estádio Corinthiano".
O verso "teu passado é uma bandeira, teu presente é uma lição", então, naquele espaço, naquele instante, com aquela massa e aqueles cantos, conseguiu costurar uma relação perfeita entre 1916 (e a conquista de um local físico nesta cidade cheia de ordens) com 2012 (e a conquista de um mundo perdido entre tantas ordens).

VAI CORINTIAS!










terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Em cinco anos.

Em Janeiro de 2008, não me recordo se no final ou se no fim, saiu o resultado do vestibular, e eu havia sido aprovado para cursar Ciências Sociais na Unesp da Marília. Ótimo! Na verdade era uma notícia excelente, liguei no rádio de casa um CD com o hino do Corintias e sai para comemorar, beber, vibrar etc.
É bem verdade que me mudei de cidade, entrei na faculdade e, pelo fato de ser um Corinthiano exacerbado, tão logo me tornei um pouco a piada da turma: disputaríamos a Série B, enfrentaríamos o time de Marília, o MAC. Porcos, 5ão Paulinos, Sardinhas e os próprios Maqueanos faziam piada com o Corinthiano fanático recém chegado às Ciências Sociais.
Em 2008 chegamos à final da Copa do Brasil, até a perdemos, mas já dava pra ver que coisas boas viriam pro Corintias. 
2009 chegou, Campeonato Paulista vencido de forma Invicta, Copa do Brasil com muita garra.
Passamos o Centenário em branco, perdemos uma Libertadores, mas não deixamos a peteca cair. Devo dizer, 2010 foi meu terceiro ano de faculdade, o mais difícil dos 5!
Em 2011 encerrei a licenciatura dois dias antes de nos sagrarmos Penta Brasileiros. 
E agora, em 2012, acabo de voltar da apresentação de meu TCC, que conclui formal e oficialmente a minha formação enquanto Bacharel em Ciências Sociais. 

Mas o que eu realmente tenho a dizer pra vocês?
Entrei na Faculdade às vésperas da estréia do Corintias na Série B, e concluo a Faculdade na véspera de nossa estréia no Mundial.

VAI CORINTIAS!


A Banca de Professores, que avaliou o trabalho e lhe conferiu a nota máxima: 10.
VAI CORINTIAS!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

"O mundial de 2000 não vale".

Sabe esse papinho de que "o Corinthians não é campeão Mundial"? "Aquilo que o Corinthians ganhou não era Mundial"? Ele não é tão novo quanto vocês acham não.


No princípio de sua história, à época da Fundação, em 1910, o Corinthians era um "Clube de Bairro", dos Trabalhadores do Bom Retiro. Começou a disputar partidas na várzea, perdeu uma, ganhou a segunda, a terceira, a quarta e, em pouco tempo,
 se tornou o "Galo Brigador das Várzeas", como o Filipe Martins Gonçalves bem indica em seus textos.

1913 chega e o Corinthians já havia conquistado todas as várzeas Paulistanas e até algumas pelo interior (Campinas, Jundiaí). Tendo ganhado tudo na várzea, restava querer entrar no Futebol Oficial: "vamos pleitear aquela vaga na Liga Paulista de Futebol", a liga que congregava o Futebol Oficial da época em São Paulo.
O Corinthians ganha o "torneio" que daria acesso à vaga, mas a validade desta conquista é questionada por alguns Clubes e diversos jornais da época: "como um time de trabalhadores do Bom Retiro poderá jogar contra nós em nosso campo de grama tão verde do Velódromo?", "como este time chega em nosso campo e derrota nossos clubes de famílias tradicionais?", "este clube não pode ter sido campeão de verdade".



Passam-se cento e muitos anos, e o mesmo discurso é mantido.




terça-feira, 10 de julho de 2012

Vencemos, e agora?

Há algum tempo atrás, um ou dois dias antes da conquista do quinto Campeonato Brasileiro, alguém (realmente não me lembro quem) me perguntou: "Coiso, quanto tempo dura a alegria pela conquista de um título?", de pronto, eu não soube responder. A pessoa, ironicamente sugeriu: "uma hora, duas, três? Um dia ou dois?". Respondi com outra pergunta: "quanto tempo dura a tua vida?", e o diálogo se encerrou. 
Não sei dizer "quanto tempo dura a alegria por um título", talvez por que a alegria não seja 'um título', mas sim uma história, construções, repletas de histórias, pessoas, lugares, passagens e, claro, títulos. Não faz sentido querer mensurar essa alegria; é alegria, e ponto.
Para alguns jornalistas/eiros termos conquistado essa tal Libertadores da América (que eles sempre disseram ter um sabor especial) vai "desvalorizar a competição", ou seja: será que o sabor vai acabar? Será que somos tão grandes assim a ponto da nossa alegria acabar com o luxo e valor de uma competição que eles sempre lustraram com óleos de peroba? 
O meu pai, que do ano passado para cá tem pegado no meu pé com "a minha forma de encarar o Corintias", nem comemorou tanto assim o título, para ele "é a primeira de muitas", não precisa comemorar 'desse jeito'. Ele também acha que a emoção que ele me viu saborear em casa ao lado da minha mae, bem como, as centenas de Corinthianos que vimos chorando pela televisão, é um exagero, algo desmedido. 
(Temos sorte da pergunta "quanto tempo dura a alegria pela conquista de um título?" não ter sido feita a ele, a resposta - que eu presenciei na prática - não foi nada empolgante).

A Anti Corinthianada decretou que tínhamos que vencer, muitos comemoraram a conquista se virando mais a eles do que a nós - me impressionou a quantidade de material que circulou pelas redes sociais em que "chupa antis" vinha em maior tamanho do que "Aqui é Corinthians" - mas muitos também comemoraram por nós, comemoraram pela história, pela construção, pelas pessoas, lugares etc, etc.

Talvez, a alegria por um título dure enquanto durar a certeza da nossa participação na história...

Vencemos, e agora? Agora comemora!
Celebremos o Corintias!
 
                                                                            ***

Assisti ao jogo na casa dos meus pais, na região da Freguesia do Ó, após vermos - pela TV - os jogadores receberem a taça e as medalhas, nos deslocamos para o Largo da Matriz, tradicional praça para comemorações de títulos futebolísticos - é tradição: "ver erguer a Taça, e subir para a Praça". Porém, esta recebeu um cordão de isolamento formado por PM's em sua entrada principal. Os Corinthianos que, por hábito e tradição, se deslocaram de suas casa até lá, eram recebidos por policiais nada amistosos. O jeito, então, foi nos concentrarmos em um cruzamento próximo dali, em frente a um colégio e alguns bares.
Passado um tempo, dois policiais passaram por ali de moto, passaram e retornaram. No retorno, borrifaram spray de pimenta em um dos grupos de Corinthianos, o que ocasionou a saída de muita gente dali. Meu pai, bravo com a situação, disse que voltaria para casa e decidi o acompanhar. 
Foi então que presenciamos mais um espetáculo da PM paulista: descer o porrete em um grupo que discutia à calçada, e gerar uma briga e um tumulto enormes, desnecessários e que provocaram, por fim, o fim de uma festa que poderia ser tão bonita...
Abaixo, algumas fotos de quando pudemos festejar:






































terça-feira, 3 de julho de 2012

A todos que estiverem no Pacaembu.

Hoje estava nas Perdizes, participando de um congresso, e deveria ir ao Museu do Futebol, logo, teria de caminhar até o Pacaembu. Meus intuitos com esta movimentação eram estudiosos (a mostra de filmes antropológicos sobre futebol). 
Eram.
Logo que cheguei sob os Arcos do Portão Principal, notei que o mesmo estava aberto para observação do Estádio, e julguei por bem entrar para deixar algumas boas energias minhas por ali, para o jogo que ocorreria 30 horas adiante.
Mais ou menos uma duzia de pessoas estavam apoiadas na grade que delimitava o espaço da visitação (no vão de entrada se alongando até a segunda escadinha das arquibancadas verdes, ficando a uns 4 metros do alambrado), apenas eu e outro não vestíamos camisas do Corintias. Estávamos todos apoiados na grade observando o gramado, as arquibancadas vazias, pessoas trabalhando com cabos, limpando o Estádio, preparando câmeras, catracas, montando o 'pódio' etc.
Conversei com um e outro sobre preços de ingressos e estar ali para fazer orações e coisas do gênero, e percebi que havia passado uma hora ali, apoiado na grade. Notei que os filmes já iam começar, e me arrumei para sair do Pacaembu.
Após três ou quatro passos, estava de frente para a saída do Estádio, parei, fechei os olhos e olhei para cima, apenas os abri pois as lágrimas pediam passagem: naqueles instantes de olhos fechados lembrei-me de tantos momentos no Pacaembu, de tantas pessoas com quem assisti jogos, de tantos jogadores que aplaudi e xinguei, de tantos placares que me fizeram vibrar etc.

Por isso estou escrevendo este texto, ele é dedicado a todos vocês que amanhã estarão no Pacaembu, embora seja redundante, ele é um pedido a todos vocês:
Gritem por mim;
Gritem por meu pai, responsável pelas minhas primeiras idas ao Pacaembu;
Gritem pelo pai do meu pai, que faleceu a três meses, e estava - junto de meu pai - de mãos dadas comigo na primeira vez em que passei pelos Arcos do Pacaembu;
Gritem pela minha mãe, que já encarou tempestades e insolações (literalmente) para que pudéssemos estar em um jogo.
Gritem por todos nós que não estaremos no Pacaembu!

VAI CORINTIAS!


terça-feira, 12 de junho de 2012

Vira pra lá e pra cá.

Cansado (de alma e mente) me deitei para dormir por volta das onze da noite, cedo.
Tão logo estava na horizontal, quieto e calado no silêncio de meu quarto, recordei-me do Gol de Paulinho no último jogo contra o vascu. O corpo todo arrepiou, lembrei-me da comemoração na sala de casa, dos pontapés no sofá e da alegria (e quizumba) que se criou e foi partilhada nas ruas da região naquela noite. Lembrei-me de atender o telefone ao fim da partida e ouvir minha mãe aos berros vibrando pela vitória, e de como berramos juntos AQUI É CORINTIAS CARALHO.
O corpo todo estremeceu, e constatei que dormir, naquela posição seria difícil. Então, virei pra lá.
Quando virei para lá, após o corpo se adaptar novamente ao colchão e a coberta já estar cobrindo plenamente este corpo, lembrei-me de outro fato.
O sôfrego zero a zero contra os porcos no começo do último Dezembro, que, combinado com outro empate, fez-me abrir a porta do apartamento em que morava, socar a porta do vizinho Corinthiano chamando-lhe para comemorar-mos juntos a conquista do Penta Campeonato Brasileiro. Lembrei-me da Avenida em Marília, tomada por Corinthianos e mais Corinthianos, festa, fogos, gritos etc.
Arrepio, tremedeira e virei pra cá, constatando que seria impossível dormir naquela situação.
E assim foi, até constatar que já era quase uma da manhã e não conseguiria dormir tão rapidamente.

É assim, desde a noite de 12 de Maio de 2001, véspera da semi final do Campeonato Paulista daquele ano contra a mesma sardinha que enfrentaremos amanhã.

E hoje, já prevejo outra noite infernal.
VAI CORINTIAS!

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Por quê "Doutor Sócrates"?


Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, ou apenas Sócrates, apareceu para o Mundo em razão do que fazia com suas pernas finas e altas quando estava com a bola de futebol nos pés. Era um jovem rapaz alto e magro, que se tornou Doutor em Medicina no ano de 1977, realizando a formação na área ao mesmo tempo em que se profissionalizava como jogador de futebol.

Durante um período da Ditadura Militar (1964/1984) era, então, um estudante de medicina que se profissionalizava como jogador de futebol, respectivamente, pela USP de Ribeirão Preto e pelo Botafogo da mesma cidade. Na Universidade tinha relevante presença nas discussões e movimentações Estudantis.

Findado o período de estudos, em 1978 fora para a Capital do Estado de São Paulo, não para ser médico, e sim para defender as cores do Sport Club Corinthians Paulista. Conquistou o Bicampeonato Paulista em 1982/83, período em que encabeçou, juntamente com outros jogadores e sujeitos do Clube, o movimento conhecido como "Democracia Corinthiana", em que as decisões referentes ao Futebol Profissional do Clube eram decididas com votos iguais entre jogadores, comissão técnica, conselheiros, presidente etc.

O fim do Regime Militar era discutido amplamente entre os setores críticos da sociedade, e, com a movimentação de Sócrates indicada acima, a pauta se ampliou e alcançou as massas espectadoras do futebol. Não só a Torcida Corinthiana, como todo o público futebolístico Brasileiro. Sócrates nunca foi ídolo de uma só Torcida, sempre foi respeitado e ouvido por Grupos Torcedores das mais diversas cores e Estados, tanto que teve importante papel na popularização e ampliação das discussões para as "Diretas Já" em 1984.

Por que um grupo universitário com foco na atuação esportiva, artística e, em razão disso, cultural, homenagearia Sócrates, o "Doutor da Bola", em seu nome? Pois ele não era nem só Doutor, nem só Jogador, nem só um jovem politizado: era, expunha e brigava por tudo isso, tal qual estamos nos propondo a discutir aqui nesta Unesp de Marília.

"Arte, no futebol, nunca foi adjetivo",
Doutor Sócrates.

Texto que fiz para expôr ao corpo Discente da Unesp de Marília, explicando quem foi o homem que nomeia o Coletivo que surge dentro do Campus.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

"Histórico Timão".

Segundo dados que encontrei na popular Wikipédia, o narrado abaixo se passou no dia 24 de Maio de 2000. Precisos doze anos atrás.
Lembro-me que era uma manhã fria, e por cima de uma jaqueta comprada em uma loja no Bom Retiro eu vestia uma camisa do Corintia não original que havia sido presente de aniversário naquele ano. Como todos os dias durante 1999 e 2006, ia de carro para a escola com minha mãe, minha irmã e certamente uma ou outra pessoa a quem frequentemente dávamos carona. O longo trajeto da Freguesia do Ó até Pinheiros costumava ser chato, uma penitência.
Nas manhãs seguidas às vitórias do Corintias havia um pouco menos desta "chatice", a ansiedade por chegar na escola e cumprimentar os amigos Corinthianos, tirar um sarro dos rivais até animava. E a manhã do dia 24 de Maio de 2000, assim como desta mesma data em 2012 foi uma manhã vitoriosa, havíamos derrotado o Patético Mineiro por 2x1 na noite anterior e estávamos classificados para a semi final da Libertadores.
Quando minha mãe parou o carro no semáforo da Avenida Sumaré com a João Ramalho, olhei para o lado e vi um senhor, dono de uma banca de jornais, afixando na frente da mesma a edição do "Lance!" daquela manhã, e consegui ler claramente o escrito: "Histórico Timão".
Cheguei na escola e logo o jornal caiu em minhas mãos - algum colega o levava todos os dias. Recordo-me da matéria dizendo que era a primeira vez que o Corintias alcançava a etapa semi final da Libertadores, e lembro-me de ter pensado: "que legal, e eu estou vendo isso".
Compreendo hoje que tudo é Histórico, sobretudo quando estamos falando desta realização de dimensões incomensuráveis que é o Corintias. E entendo também que já vi, vivi e saboreei etapas importantes deste "Histórico", e pretendo seguir vivendo-as, pois isto é vida para mim e para todos vocês: a História somos nós.
VAI CORINTIAS!



segunda-feira, 2 de abril de 2012

A 2ª Geração.

Hoje pela manhã um número de São Paulo me ligou, não atendi, estava em aula. O número ligou novamente, e eu já sabia do que se tratava. Ele já estava doente havia muito tempo, nos últimos meses complicações, nas últimas semanas o agravamento.
Antes de tudo devo dizer: não serei hipócrita em falar que sentirei saudades, nunca houve convívio que fosse criador de saudades quando inexistente, pois - durante longos anos - não houve convívio.

Tirando breves períodos da infância, de que guardo as lembranças de uma tarde ou outra; de um passeio ou outro; de um presente transgressor (uma fita K7 dos Mamonas Assassinas) ou outro (uma cadernetinha de telefones com o símbolo do Corintias na capa), nunca fomos próximos, de fato.
Dos dez, onze anos em diante, nossos encontros se tornaram visitas anuais - quando muito - que duravam no máximo duas horas.

Muitos - ousaria dizer que quase todos - de nossos poucos contatos eram mediados pelo assunto único: Corintias. Lembro-me que em 2003 fomos visitá-lo, e ele ainda estava inconformado com a marcação ruim de Rogério em cima do Robinho, na final do Brasileiro de 2002.
Semanalmente, após o jogo do Corintias de todos os finais de semana, Seu Bruno ligava em casa, raramente nos falávamos, pois a ligação era direta ao meu pai.

Dentre um dos poucos momentos vividos com o 'Seu Bruno', como fui ensinado à chamá-lo (não tenho recordação de me referir a ele como "vô"), um deles talvez esteja entre as vivências mais relevantes desta vida.
Foi em Janeiro de 1995, Seu Bruno e meu pai, respectivamente segunda e terceira gerações de Corinthianos, me levaram ao Pacaembu. Mais do que acompanhar o jogo de Juniores entre Corintias x Nacional, me levaram àquele Templo para formar a quarta geração. Compraram-me uma fitinha de pano fino, com o escrito "Corinthians" e a prenderam em minha cabeça.

Diga-se de passagem, a formação da quarta geração foi um feito realizado com muito sucesso a partir daquela tarde.

Hoje, enfim, 2 de Abril de 2012, a segunda geração se vai.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O grande medo para 2012.


Baseados em uma má compreensão de um artefacto maia (até onde pude compreender da história), começou-se a espalhar por ai que 2012 é o ano do fim do mundo, fizeram até um filme sobre isso - o qual me neguei a assistir. Talvez baseadas no filme, as pessoas começaram a proliferar piadas, tirinhas e até 'coisas sérias' fazendo referência ao fim do mundo neste ano. Ainda sobre isso, quando alguém se refere com seriedade ao 'fim dos tempos em 2012', basta questionar "o que é o fim do mundo?", para encerrar o assunto, que não passa de bobeira.
O décimo primeiro segundo ano do século vinte e um me reserva um medo muito (mas muito) maior do que o fim da vida humana na terra, trata-se de bater de frente com uma de minhas superstições.

Em 2008, quando ingressei na universidade, logo me aproximei do Renan e nos tornamos bons amigos. O que nos aproximou, de fato, foi o Corintias. Assistimos ao segundo jogo das quartas de final da Copa de Brasil deste ano (contra o São Caetano) juntos, o primeiro jogo da final da mesma Copa (contra o Sport) juntos e, na trágica partida final daquela Copa do Brasil iniciou-se uma sina.
Assistimos ao jogo contra o Sport juntos, nas mesmas condições do anterior, e o placar de 2x0 para o time Pernambucano foi a primeira partida que assistimos juntos e que resultou em não vitória Corinthiana, algo que se estende de Junho de 2008 até os dias atuais.
Neste período - de quase 4 anos - evitamos ao máximo assistir/acompanhar partidas estando juntos. No ano passado morávamos no mesmo andar do mesmo prédio, porém, cada um assistia ao jogo em sua morada, e, finada a partida, nos encontrávamos no corredor para uma mesa redonda sobre o mesmo.
Assistindo a jogos juntos, perdemos e empatamos partidas na Série B de 2008 e no Brasileirão de 2009; perdemos uma Libertadores em 2010; o brasil perdeu para a Holanda na última Copa do Mundo; perdemos pontos no Brasileirão de 2010. Até que decretei ao amigo que não mais assistiríamos jogos juntos, por razões de força maior do espírito.

Porém, muito comum entre estudantes buscando desesperadamente alugueis mais baratos, neste último ano de graduação dividiremos teto (junto de um moderado porco), o que implicará em assistirmos partidas juntos.
E eis o meu grande medo para 2012.



Renan e eu celebrando o Centenário do Corintias na Unesp/Marília.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Como nomear?

Na madrugada de segunda para terça feira entrei na página principal do uol (como nomear a relação entre este portal a folha de são paulo?) para ver como estavam noticiando a queima de um ônibus na comunidade do Pinheirinho, em São José dos Campos. Tão logo a página foi carregada meus intuitos nela mudaram.
A seguinte "notícia" (entre aspas, pois não consigo nomear esta publicação como "noticiar um fato") estampava a primeira das fotos no site: "Navio que naufragou na Itália foi usado pelo Corinthians em 2010". Pelo que soube, este material foi publicado na folha de são paulo - versão virtual - de hoje, 17 de Janeiro de 2012.

Para alguns é mera forma de "fomentar a rivalidade", e coisas do gênero. Mas sabemos que não é isso; neste caso, é muito mais do que isso.
Estamos lidando com um acidente que causou mortes, acarretará em processos, possivelmente prisões, e talvez, ainda, "danos ambientais".

No início do amontoado de palavras (que não há como ser nomeado de "matéria") assinado por Bernardo Itri e Eduardo Ohata há a frase: "Entre os rivais do Corinthians, virou motivo de chacota o naufrágio do navio na Itália.". Curiosamente - devo ressaltar - os primeiros que vi/li tirando sarro deste naufrágio, o que envolve os mortos e desaparecidos no mar, foram os dois jornalistas citados acima.
Se estes se consideram rivais do Corintias, não vejo problemas, pelo contrário, como já escrevi em um texto no 3 Toques, "como cobrar de alguém que trabalha com futebol que seja neutro?". Porém, o sarro que tiraram, não foi do Corintias - embora a tentativa tenha sido essa.

A grande maioria de vocês, "jornalistas esportivos" (se é que podemos nomear esta junção de letras como material jornalístico), podem - e devem - declarar o posicionamento clubístico de vocês, para mim, isso passaria maior credibilidade nalgumas 'coisas' (não há outro nome para certas publicações) que leio.
Nesta "notícia", me inquietou o fato de ter sido centralizado o Corintias, com o intuito de se debochar deste clube e do ano de seu centésimo aniversário no qual, é verdade, não houve nenhuma conquista no futebol profissional. Me inquieta pois não entendo a necessidade de sempre colocar o Corintias em pauta, mesmo quando não temos nada a ver com o assunto.

Porém, o que me deixou com nojo, foi perceber que não se está tirando sarro do Corintias, mas sim das pessoas que morreram, das pessoas que ainda estão desaparecidas, do capitão que está em prisão domiciliar, das pessoas que tiveram uma noite de pânico no mar gelado antes de o resgate chegar e das famílias de todas as pessoas envolvidas.

Como nomear este tipo de publicação? De preocupação? De dedicação?